quarta-feira, 20 de abril de 2011
A CURA DO TENOR ESPANHOL VEIO DO PERDÃO
A CURA DO TENOR ESPANHOL VEIO DO PERDÃO
“Perdão foi feito p’ra gente pedir”, cantava o inesquecível Ataulfo Alves, e eu acrescentaria: perdão foi feito para ser dado também. Foi o que aconteceu com os tenores espanhóis Plácido Domingo e José Carreras, os quais se tornaram inimigos em 1984, por questões políticas.
Em 1987, porém, José Carreras descobriu que tinha leucemia. Submetendo-se a tratamentos sofisticados, viajava mensalmente aos Estados Unidos. Sem poder trabalhar, e com o alto custo das viagens e do tratamento, logo sua razoável fortuna acabou.
Sem condições financeiras para prosseguir o tratamento, Carreras tomou conhecimento de uma clínica em Madrid, denominada Fundación Hermosa, criada com a finalidade única de apoiar a recuperação de leucêmicos. Graças ao apoio dessa clínica, ele venceu o câncer. Voltando a cantar e a receber altos cachês, José Carreras tratou logo de se associar à Fundação para ajudá-la financeiramente.
Foi então que, lendo o estatuto da Fundación Hermosa, descobriu que seu fundador, maior colaborador e presidente era Plácido Domingo. Mais do que isso, Carreras descobriu que a clínica fora criada, em princípio, para atender exclusivamente a ele mesmo. Plácido se mantinha no anonimato para não constrangê-lo a aceitar o auxílio de seu inimigo. Momento muito comovente aconteceu durante uma apresentação de Plácido, em Madrid. De forma imprevista, Carreras interrompeu o evento e se ajoelhou a seus pés. Pediu desculpas a Plácido publicamente, agradecendo o benefício de seu restabelecimento.
Mais tarde, uma repórter perguntou, numa entrevista a Plácido Domingo, por que ele criara a Fundación Hermosa; afinal, além de beneficiar um inimigo, ele concedera a oportunidade de reviver Carreras, um dos poucos artistas que poderiam lhe fazer alguma concorrência. Sua resposta foi simplesmente a seguinte: “Porque uma voz como a dele não se podia perder”.
Diante desses gestos de grandeza moral de Plácido e Carreras, afirmamos sem dúvida que os dois, de fato, exemplificaram o perdão e a humildade...
Escrito por GERSON SIMÕES MONTEIRO.
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